LIVRO DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO, DE LUÍS DA CÂMARA CASCUDO
STPM JOTA MARIA # MOSSORÓ-RN, 24 DE DEZEMBRO DE 2012
Para as cidades do Nordeste, junho é o mês mais esperado do ano, quando são comemoradas as festas juninas e seus respectivos santos: Santo Antônio, São João e São Pedro. Nesta época é comum observar as ruas e casas enfeitadas com bandeirolas e balões, assistir a grupos de todas as idades vestidos de graciosas roupas coloridas dançando quadrilhas, época de comer milho cozido ou assado, pamonhas, canjicas, pés-de-moleque e toda a afloração da culinária tipicamente nordestina.
Acredita-se que estas festas foram transportadas da região da França, mais precisamente no século XII, quando os franceses costumavam celebrar o início das colheitas e que coincidiam com os solstícios de verão (dia mais longo do ano, 22 ou 23 de junho).
A modelo de outras de origem pagã, estas festas comemoradas pelos franceses passaram também a adquirir um sentido religioso introduzido pelo cristianismo, trazido pela Igreja Católica ao novo mundo. Com a disseminação dos festejos na Europa e provável migração para o Ocidente, a comemoração das festas juninas no Brasil é de herança portuguesa.
Chegando ao Brasil, as festas juninas tomaram conta do País de norte a sul e durante o mês de junho, em todos os lugares, é possível encontrar as festas e seus símbolos típicos como fogueira, danças e comidas típicas. Assim como é comum no cristianismo as pessoas rogarem aos santos graças, os sortilégios e simpatias também aumentam a crença nos três santos juninos.
Com quem vou casar? Sou amada por "fulano" ou não? Essas duas perguntas são feitas exclusivamente para o primeiros dos santos juninos, Santo Antônio, mais conhecido como o Santo Casamenteiro. Este com certeza é o mais invocado pelas moças solteiras que pedem com todo fervor para Santo Antônio encontrar seu futuro marido.
SÍMBOLOS
Um dos principais símbolos das festas juninas é a quadrilha, dançada em homenagem aos santos juninos e, segundo a tradição, para agradecer as boas colheitas. No Nordeste, para se dançar quadrilha é preciso, primeiramente, ter um parceiro. O número de participantes varia com o tamanho do espaço que se tem para dançar.
Os comandos são dados por um marcador, que orienta os casais e vai indicando os passos através de palavras afrancesadas e portuguesas. Balancê (dançar com o parceiro sem sair do lugar), Anavan (avante, caminhar balançando os braços), Returnê (voltar ao lugar original) e Tur (dar uma volta em parceria com o companheiro).
Além deste, existem também outros comandos que vão surgindo com o decorrer da dança, como é o caso de "Cumprimento de cavalheiros ou damas", "Grande passeio", "Túnel", "Olha a cobra", "É mentira", "Caracol" e outros.
Na quadrilha tradicional ou matuta é realizado um casamento e os integrantes se vestem de acordo com o personagem (noiva, noivo, pais da noiva, viúva, padre etc.). O casamento caipira faz uma sátira aos casamentos tradicionais. A noiva está grávida e o pai obriga o rapaz a se casar com a filha. No dia do casamento, o noivo aparece bêbado e tenta fugir do altar, mas é comedido pelo pai da noiva que lhe aponta uma espingarda. Após a cerimônia, os noivos puxam a quadrilha.
Outro símbolo comum nesta época são os fogos de artifício, que surgiram na China com o mesmo objetivo das fogueiras, agradecer aos deuses pelas boas colheitas. As bandeirolas representam as bandeiras dos santos, levando purificação a todo o local da festa.
Uma das brincadeiras mais comuns nas festas juninas é o pau de sebo, que tem como objetivo fazer com que os participantes consigam ganhar uma quantia em dinheiro, que está afixada no topo do pau.
Superstições e adivinhas
O anel no dedo
Difundida por todo o Nordeste, e provavelmente Sul do Brasil, está a superstição do anel no copo: "Em noite de São João passa-se sobre a fogueira um copo contendo água, mete-se no copo sem que atinja a água um anel de aliança preso por um fio, e fica-se a segurar no fio; tantas são as pancadas dadas pelo anel nas paredes do copo quantos os anos que o experimentador terá de esperar o casamento".
Clara do ovo
"Uma das mais populares adivinhações sanjoaninas em Pernambuco é a do ovo, feita à tardinha e que consiste em deitar-se a clara dentro de um copo com água até o meio, coberto com um lenço branco, tendo sobre o mesmo uma tesoura aberta em forma de cruz, e um rosário bento, para ver-se depois da meia-noite a sorte da pessoa segundo a imagem que a clara representar no fundo do copo. Por exemplo: se um navio, viagem próxima; uma igreja, o suspirado casamento".
O sonho da ceia
A "mesa posta" é a mais usada pela mocidade nas noites de São João, segundo estudos realizados pelo historiador Luís da Câmara Cascudo, "Uma pequena mesa forrada com uma toalha bem limpa, com talheres, pratos e copos para duas pessoas. Duas velas acesas a cabeceira da mesa, junto da qual fica a cama, onde vai dormir a pessoa que faz a adivinhação. O que tiver que suceder aparecerá no sonho, cujo cenário é a mesa". A tradição aparece em São Paulo, no Rio de Janeiro, França, Alemanha, Itália e Rússia.
A sombra na água e no espelho
"É superstição espalhada no mundo inteiro e de considerar-se de mau agouro não se ver a figura refletida na água parada: n'água de uma vasilha qualquer ou um rio, açude ou lago, curvam-se os consulentes procurando divisar as feições retratadas. Não podendo identificar-se, não verá outro São João... está condenado à morte"... Um outro processo ligado ao reflexo da figura, é o espelho. Olhando à meia-noite, com uma vela na mão e rezando-se a salve rainha, para mostrar o futuro noivo ou noiva. Ou o espelho deixado no telhado, depois de ter passado rapidamente pelas chamas da fogueira de São João é consultado no meio-dia seguinte ou na meia-noite imediata. Naturalmente, as datas variam".
Com vegetais
"Todos os folcloristas brasileiros têm registrado entre as adivinhações da véspera e noite de São João, aquelas que se relacionam com vegetais de rápido crescimento. O alho se planta nas vésperas, para verificar ao meio-dia seguinte se grelou. Então a resposta à consulta é um sim, se estiver com dentes é um não. Assim como grãos de milho; galhos verdes passados às chamas das fogueiras são atirados para o telhado. Se estiverem verdes no dia imediato sim, se murchos não". "... Busca-se colher uma pimenta, ou folha de qualquer vegetal, no escuro. Se tirar folha ou pimenta verde, o noivo é moço. Se folha murcha e pimenta vermelha, o noivo é além dos trinta. Se folha seca e pimenta murcha, o noivo é um velho".
FONTE: JORNAL "O MOSSOROENSE", fundado em 17/10/1872, o quarto mais antino em circulação no Brasil